Hoje, o disco soa datado pela sonoridade, mesmo que as composições permaneçam atemporais. Mas "Fullgás" é extremamente coerente com a época de seu lançamento, e soa mais orgânico do que muitas novidades do longínquo ano de 1984, marcado pelos sintetizadores e outros artifícios especiais que substituíram muitos músicos na década de 80.
As músicas do álbum constituem um Pop Rock bem delicioso e leve de se ouvir, e ainda assim não perde a profundidade sobre o ser humano e nem o senso crítico com a cena social e política do País. Na própria faixa-título e carro chefe do disco, Fullgás (brincadeira com "Fugaz"), pode-se perceber uma leve cutucada na Ditadura que dava os últimos suspiros - seja proposital ou não - nos versos "Você me abre seus braços e a gente faz um país". Mas dos mesmo versos também se pode deduzir outras coisas, como a procriação de muitos seres motivado por uma paixão arrebatadora, mesmo momentânea, por exemplo. É preciso destacar o talento de Antônio Cícero, poeta e irmão de Marina e que sempre brindou o repertório da mana com letras palatáveis sem jamais perder o contexto filosófico e criativo das histórias que conta.
Outras faixas de destaque além da faixa-título são a gravação de Marina para "Me Chama", de Lobão (que gravou com o grupo "Os Ronaldos" no mesmo ano) que, inclusive, tocou a bateria na faixa; há também a regravação tecnopop de "Mesmo que Seja Eu", de Roberto e Eramo Carlos que este último gravou em 1982; "Veneno, versão de "Veleno" feita por Nelson Motta e que foi um dos sucessos do álbum; "Mais Uma Vez", parceria de Nelson Motta com Lulu Santos, que fez o arranjo e tocou bateria, guitarra e "Korg Lambada" na faixa e por aí vai. Uma faixa que destaco é a reflexiva "Mesmo se o Vento Levou", onde um amor que findou e só restou lembranças diz a conclusão definitiva: "Isso vai ficar em mim". Há também a versão de Marina para "Ensaios de Amor", anteriormente gravada por Emilio Santiago e que se tornou título do seu LP de 1982.
"Fullgás" foi produzido por João Augusto, com a Direção musical de Marina Lima. Músicos como os já citados Lulu Santos e Lobão, "ratos" de estúdio famosos como Liminha, Ricardo Cristaldi, Léo Gandelman, Nico Rezende e Liminha participam da produção e dos arranjos do disco. "Fullgás" tem um aspecto de boemia da zona sul carioca que ao mesmo tempo se comunica com a essência e os sentimentos das pessoas, independente de serem passageiros ou não. De qualquer forma, é um disco classudo.
"Fullgás" foi lançado em LP e Cassette, tendo a primeira versão em CD editada em 1988.
Uma nota: Antonio Cícero participa da declamação "Cícero e Marina", junto com a irmã e que é a única faixa do disco nesse estilo.
Faixas:
01 Fullgás (Marina Lima; Antonio Cícero)
02 Pé na Tábua (Ordinary Pain) (Stevie Wonder; Versão: Antonio Cícero; Sergio de Souza)
03 Pra Sempre e Mais um Dia (Marina Lima; Antonio Cícero)
04 Ensaios de Amor (Marina Lima; Ana Terra)
05 Mesmo que Seja Eu (Roberto Carlos; Erasmo Carlos)
06 Me Chama (Lobão)
07 Mesmo se o Vento Levou (Marina Lima; Antonio Cícero)
08 Cícero e Marina (A José Ibsen) (Antonio Cícero)
09 Veneno (Veleno) (Polacci; Versão: Nelson Motta)
10 Mais Uma Vez (Nelson Motta; Lulu Santos)
11 Nosso Estilo (Lobão; Marina Lima; Antonio Cícero)
Produção: João Augusto para Deck Produções
Direção Musical: Marina
Arranjos: Ricardo Cristaldi, Niko Resende, Pedrão e Marina, exceto nas faixas:
“Mais uma vez”: arranjo de Lulu Santos
“Nosso Estilo”: arranjo de Lobão;
“Mesmo que Seja Eu”:arranjo de Marina e banda (Paulo Machado, Paulinho Guitarra, Chico Jullien, Rui Motta e Luizão)
Gravado e mixado no Estúdio PolyGram PRS em 24 canais - Barra da Tijuca
Arthur Torres
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