Nat King Cole - Where Did Everyone Go? (Capitol, 1963)

1963. O rock ainda era uma criança que começava a desenvolver a sua personalidade. Os Beatles iniciavam uma trajetória de sucesso, o Twist de Chubby Checker lotava as pistas de dança. Elvis Presley se perdia em um marasmo de filmes cretinos em Hollywood, perdendo a sua força. A Bossa Nova, brasileira, por sua vez engatinhava os primeiros passos nos Estados Unidos ao atravessar a fronteira. Jovens baladistas como Paul Anka e Neil Sedaka dominavam as estações de rádio pelo mundo afora durante essa transição.

No meio de tudo, havia a então “Velha Guarda” da Música Norte-Americana, representada pelos Standards. Ou então, se preferirem, a era pomposamente denominada “Classic American Song Book”, que desde os anos 20 dava o tom da música e do cinema Hollywoodiano. Injustamente, a mídia (provavelmente) denominou os seus representantes como ultrapassados. Entre eles, estava Nat King Cole, que havia começado a carreira como pianista de Jazz em um trio, em meados dos anos 30. No final da década de 40, investiu em sua carreira solo e se tornou um dos maiores intérpretes, não só de sua geração mas de todos os tempos.

E voltamos ao longínquo ano de 1963, ano em que Nat “voz de veludo” lançou “Where Did Everyone Go?”, pela lendária Capitol Records, onde estava desde o início dela. Este álbum é o vigésimo sétimo de sua carreira solo e o quarto (e último)  da frutífera parceria com o Maestro e Compositor Gordon Jenkins. Grande pilar de sua época, Gordon era (talvez) o mais conservador de todos os gênios das partituras entre seus contemporâneos. Prezava o sentimentalismo explicitamente romântico, símbolo de longa-metragens como “E O Vento Levou…” e “Casablanca”. Aliás, é de Gordon a composição “Goodbye”, um dos maiores clássicos da era de ouro da Música Pop Norte-Americana que antecedeu o Rock. Ou seja, Gordon Jenkins era a pura personificação do amor careta, mas de muito bom gosto. Conseguia ser refinado e simples ao mesmo tempo.

E o álbum é simplesmente lindo. Nat e Gordon vinham trabalhando juntos desde 1957, quando conceberam “Love Is The Thing”, primeiro álbum estereofônico de Cole. Depois, vieram “The Very Thought Of You” em 1958, “Every Time I Feel The Spirit” (este, de 1959, difere dos outros por ser um álbum gospel, uma pegada totalmente diferente) e finalmente “Where Did Everyone Go?”. Gravado entre 13 e 14 de agosto de 1962, a dupla concebeu um dos mais belos trabalhos discográficos oferecidos ao Planeta Terra. Aqui mostra que ainda havia o amor simples, nostálgico, onde o arco-íris era muito mais colorido e o céu de fato era azul. Romantismo pra dar e vender.

Como não se comover diante “When The World Was Young”, cujas lembranças da juventude se voltam a Paris e uma Árvore de Maçãs, para refletir sobre toda a sua vida? A música é uma versão de Johnny Mercer para a francesa “Le Chevalier de Paris”. No mais, padrões do standard como “Am I Blue” (Harry Akst e Grant Clarke), “Spring Is Here” (balada implacável da dupla Lorenz e Hart), “Say It Isn’t So” (Irving Berlin) e “That’s All There Is (There Isn’t Anymore)” (do próprio Gordon Jenkins) e outras baladas dão sentido ao conceito do disco. As orquestrações de Gordon Jenkins são um pano de fundo eficiente, com luz própria, sem jamais ofuscar o canto suave e tocante de Nat King Cole.

A capa do álbum também é uma beleza a parte: Nat, com toda a sua ultra-elegância, sozinho, onde só uma luz clareia uma escuridão sombria, na qual a tristeza se faz presente. A capa é da responsabilidade do fotógrafo Ken Veeder.

“Where Did Everyone Go?” foi lançado em maio de 1963 e a produção é de Lee Gillette. Infelizmente, foi o último sublime álbum que Nat King Cole gravou, que representa uma parte de toda a sua importância e talento. Ele gravaria outros discos, mas sem o mesmo brilho até 1965, quando faleceu no dia 19 de fevereiro, aos 45 anos, vítima de câncer. Nat registrou uma das mais importantes e admiráveis discografias ao longo de sua carreira, deixando um legado benéfico para a música mundial.

Faixas:

01 Where Did Everyone Go? (Mack David, Jimmy Van Heusen)
02 Say It Isn't So (Irving Berlin)
03 If Love Ain't There (Johnny Burke)
04 (Ah, the Apple Trees) When the World Was Young (M. Philippe Gerard, Angela Vannier, Johnny Mercer)
05 Am I Blue (Harry Akst, Grant Clarke)
06 Someone to Tell It To (Sammy Cahn, Dolores Fuller, Van Heusen)
07 The End of a Love Affair (Edward Redding)
08 I Keep Going Back to Joe's (Marvin Fisher, Jack Segal)
09 Laughing on the Outside (Crying on the Inside) (Ben Raleigh, Bernie Wayne)
10 No, I Don't Want Her (Joe Bailey)
11 Spring Is Here (Lorenz Hart, Richard Rodgers)
12 That's All There Is (There Isn't Anymore) (Gordon Jenkins)

Selo: Capitol
Produção: Lee Gillette
Arranjos: Gordon Jenkins
Gênero: Pop Vocal
Ano: 1963

Arthur Torres

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