"Erasmo Carlos & Os Tremendões" é a volta por cima de Erasmo Carlos após o fim da Jovem Guarda. O trabalho autoral com o parceiro Roberto Carlos está mais amadurecida, além do gigante gentil abraçar composições mais lisérgicas que o aproximaria da dita cuja "MPB". O disco foi puxado pelo sucesso de "Sentado a Beira do Caminho", lançada em compacto em 1969.
Aliás, essa canção nasceu da ideia de Roberto Carlos, que mostrou a composição para Evandro Ribeiro, presidente da CBS que gostou do esboço da música e sugeriu terminá-la, imaginando que RC a gravasse. Mas Roberto fez a música para o Tremendão com o intuito de que ele gravasse e voltasse a estar na atenção da mídia e da parada de sucessos. Erasmo havia perdido muita força após o fim da Jovem Guarda, em 1968 e seu LP lançado no mesmo ano havia sido um fracasso de crítica e público. Isso contribuiu para Erasmo entrar numa depressão profunda, tendo como a bebida a válvula de escape para desabafar as mágoas.
E após gravar "Sentado a Beira do Caminho", lançada junto com "Johnny Furacão", foi lançado um compacto simples e um duplo com duas faixas de seu LP anterior, Erasmo decidiu dar um upgrade ao seu trabalho, tendo em vista que também estava influenciado pela Tropicália de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Além disso, Erasmo voltou a morar no Rio de Janeiro, após residir em São Paulo durante o apogeu da Jovem Guarda.
As sessões de "Erasmo Carlos & Os Tremendões" começaram no fim de 1969, ao mesmo tempo que as gravações de "Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa", longa dirigido por Roberto Farias que trouxe a trindade Roberto, Erasmo e Wanderléa. Pra variar, o filme teve locações em Israel e Japão, além do próprio Brasil, o que proporcionou um tempo maior para Erasmo preparar o seu álbum. Uma das primeiras canções gravadas (e que está no filme) é "Vou Ficar Nu pra Chamar sua Atenção", balada romântica levemente maliciosa que Roberto regravaria em 1976, com título e alguns versos modificados. Um dos destaques da dupla Erasmo e Roberto é o samba "Coqueiro Verde", que trouxe Toquinho no violão e cita Narinha, a eterna musa de Erasmo. A faixa "Estou Dez Anos Atrasado", que abre o disco, é um protesto acrescido de análise bem freudiana sobre quem é, o que faz, o que gosta, desgosta, enfim. Destaque também para "A Bronca da Galinha (Porque Viu o Galo com Outra)", composição instrumental onde Erasmo simula o som de um saxofone com um papel na boca.
Quanto a outros compositores conceituados que compõem o repertório do disco, estão o então exilado Caetano Veloso com "Saudosimo" (antes gravada por Gal Costa, em 1969), o pianista renomado Antonio Adolfo e o letrista Tibério Gaspar com "Teletema", o letrista sob medida Vitor Martins e o violonista Sergio Fayne com "Gloriosa", o incentivador de Erasmo, Carlos Imperial, junto com o pouco lembrado Angelo Antonio e Adriano com "Menina" e Piti com a psicodélica "Espuma Congelada". Como se não bastasse tudo isso, Erasmo dá a sua interpretação para a "Aquarela do Brasil" de Ary Barroso.
Os arranjos do disco ficaram a cargo de Chiquinho de Moraes, que trabalhou, sob a orientação de Erasmo, as orquestrações em cima das bases - bem modernas, por sinal - planejadas por Erasmo e sua banda Os Tremendões. O resultado ficou tão satisfatório que o maestro e arranjador foi trabalhar com Roberto Carlos com esse conceito. É preciso ressaltar que o seu trabalho no LP valeu para Chiquinho o emprego de regente para os shows de Roberto a partir de 1970.
"Erasmo Carlos e os Tremendões" foi o último álbum de Erasmo Carlos para a RGE, gravadora na qual iniciou em 1964 com o compacto "Jacaré" e iniciou uma série de seis LPs com "A Pescaria" (1965), finalizando com chave de ouro seu período na gravadora. Em seguida, Erasmo foi para a Companhia Brasileira de Discos, futura Phonogram, depois PolyGram e hoje Universal Music, a convite de André Midani. O músico permaneceria na companhia por 18 anos. Erasmo estrearia na nova gravadora com o compacto "A Semana Inteira/Gente Aberta" pelo selo Philips ainda em 1970 e em seguida lançaria o retumbante LP "Carlos, Erasmo", em 1971.
-Ficha Técnica
Artista: Erasmo Carlos
Álbum: Erasmo Carlos & Os Tremendões
Produção: Erasmo Carlos
Arranjos: Chiquinho de Moraes
Gravadora: RGE
Gênero: Pop Brasileiro
Ano: 1970
- Faixas:
01 Estou Dez Anos Atrasado (Erasmo Carlos; Roberto Carlos)
02 Gloriosa (Vitor Martins; Sergio Fayne)
03 Espuma Congelada (Piti)
04 Teletema (Antonio Adolfo; Tibério Gaspar)
05 Jeep (Vitor Martins; H. Denis)
06 Sentado a Beira do Caminho (Erasmo Carlos; Roberto Carlos)
07 Coqueiro Verde (Erasmo Carlos; Roberto Carlos)
08 Saudosimo (Caetano Veloso)
09 Aquarela do Brasil (Ary Barroso)
10 A Bronca da Galinha (Porque Viu o Galo com Outra) (Erasmo Carlos; Roberto Carlos)
11 Menina (Carlos Imperial; Angelo Antonio; Adriano)
12 Vou Ficar Nu pra Chamar Sua Atenção (Erasmo Carlos; Roberto Carlos)
- Curiosidades:
*"Sentado a Beira do Caminho" foi inspirada na melodia de "Money", de Bob Goldsboro. Além disso, Roberto fez a mixagem da música na gravação de Erasmo.
*"Vou Ficar Nu..." e "Aquarela do Brasil" foram lançadas em compacto simples pela RGE, antecedendo o LP, ainda no final de 1969
*Roberto Carlos é o autor da foto da contracapa de "Erasmo Carlos & Os Tremendões", tirada durante os intervalos de gravação de "O Diamante Cor de Rosa"
Arthur Torres
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