Rio 65 Trio - Rio 65 Trio (Philips/CBD, 1965)

O álbum de estréia do Rio 65 Trio é uma das maiores revoluções dentro da história musical brasileira. Está mais para um disco de Jazz do que Bossa Nova instrumental. O trio formado por Salvador Filho, Sergio Barroso e Edison Machado se destacou pela alta virtuosidade instrumental dentro de uma estrutura de combo que se apoia em uma estrutura harmônica pra tocarem, se permitindo o improviso nos arranjos.

O surgimento do Rio 65 Trio se deu no Bacará, bar situado no Beco das Garrafas, Rio de Janeiro. Acompanharam Marcos Valle em sua estréia no famoso templo da Bossa Nova, que também contou com a participação da cantora Leny Andrade.

Armando Pittigliani, da Philips, assistiu a um dos shows e em seguida convidou o trio para gravarem um LP na Companhia Brasileira de Discos, pelo selo Philips. E com a produção do próprio Armando, o Trio gravou o repertório do álbum. Grandes sucessos Bossanovistas como "Preciso Aprender a Ser Só" (Marcos e Paulo Sérgio Valle), "Minha Namorada" (Vinícius de Moraes e Carlos Lyra), "Manhã de Carnaval" (Luiz Bonfá e Antônio Maria), "Tem Dó" (Baden Powell e Vinicius de Moraes) e a meio-sertaneja "Aruanda" (Geraldo Vandré) fazem parte do repertório. Mas o Trio inova ao apresentar temas exclusivos, compostos por Salvador, como a suingada "Meu Fraco é Café Forte" e  "Farjuto", esta última super influenciada por Thelonious Monk. Composições garimpadas do Jazz norte-americano como "Mau Mau" (Art Farmer) e Sonny Moon For Two ( Também conhecida como "Blues em Samba", de Sonny Rollins) completam o álbum.

Não foi a toa que o álbum fez sucesso e é referência dentro da música instrumental. Já existia o Tamba Trio? Sim. Zimbo Trio? Também. Bossa Três? Idem. Mas, com toda sinceridade, nenhum deles soa tão refinado, elétrico e vanguardista ao mesmo tempo do que o Rio 65 Trio. Salvador, que mais tarde se eternizou como "Dom Salvador" mostra toda sua influência jazzística complexa, vinda de influências ricas como George Shearing e Thelonious Monk. Sergio Barroso, por sua vez, é mais comportado com o seu baixo acústico, mas dá a marcação, tira o grave necessário de seu instrumento e dá apoio aos improvisos dos dois colegas restantes. Por fim, o mitológico e saudoso Edison Machado, com toda força, suingue e energia, dá a marcação com sua bateria frenética, não só nos tambores como também nos pratos, que são devidamente valorizados.

Antes desse álbum, os trios instrumentais de Bossa Nova contavam com seu refinamento estético comportado e fidelidade à zona do equador. Aqui, com o lançamento do LP, novos caminhos foram desbravados , tendo mais flertes com Jazz Norte-americano.

Ficha Técnica:

Álbum: Rio 65 Trio
Artista: Rio 65 Trio
Produção: Armando Pittigliani
Gravadora: Companhia Brasileira de Discos
Selo: Philips
Gênero: Bossa Nova
Estilo: Instrumental
Ano: 1965

Faixas:

01 Meu Fraco é Café Forte (Dom Salvador)
02 Preciso Aprender a Ser Só (Marcos Valle; Paulo Sérgio Valle)
03 Farjuto (Dom Salvador)
04 Desafinado (Newton Mendonça; Tom Jobim)
05 Sonny Moon For Two (Blues em Samba) (Sonny Rollins)
06 Espera De Você (José Luiz de Oliveira; Dom Salvador)
07 Mau, Mau (Art Farmer)
08 Tem Dó (Baden Powell; Vinicius de Moraes)
09 Azul Contente (Walter Santos; Tereza Souza)
10 Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá; Antônio Maria)
11 Aruanda ( Geraldo Vandré)
12 Minha Namorada (Carlos Lyra; Vinicius de Moraes)

Curiosidades:

* O álbum ganhou sua primeira edição em CD em 2005, pela Universal Music. A produção ficou a cargo do pesquisador e músico Charles Gavin.

*Na edição em CD, a faixa "Aruanda" não foi incluída, por motivos autorais. Geraldo Vandré, o compositor da música, não foi encontrado.

Arthur Torres


Comentários