Nelson Riddle - Communication (MPS, 1971)


Desde que eu conheci a música de Nelson Riddle, desenvolvi uma intensa conexão emocional com ela.E com o personagem também. Acho que só pelo arranjo soberbo que fez pra "Ive Got You Under My Skin" pra Frank Sinatra" ele é um patrimônio da música mundial. Primeiro, tive que conhecer o álbum "Strangers In The Night", de Frank Sinatra, do qual Nelson foi o arranjador e maestro de 99% do álbum, exceto a faixa título. Eu também me identifico um pouco com a personalidade desse músico fabuloso, que sempre foi quieto, afável, generoso mas que era inseguro, tinha conflitos emocionais complexos e sofreu perdas irreparáveis, como a sua filha de colo, em 1958.

E Nelson transcreveu sua complexidade em arranjos (em sua maioria) perfeitos, cheios de citilância, calor, drama, suingue e sensualidade. Pra mim, Nelson foi o arranjador mais icônico da música norte americana dos anos 50. Começou com Nat King Cole em "Monalisa", trabalhando como assistente do renomado Les Baxter, que levou o crédito do arranjo no single lançado pela Capitol Records em 1950. Isso deixou Riddle chateado, ficando magoado por muito tempo com Baxter. Mais isso foi o suficiente para Nat conhecer Nelson e confiar no seu trabalho, o que gerou uma parceria muito frutífera. Da parceira dos dois, surgiu o hit "Unforgettable", lançado em 1951 e que dominou as paradas internacionais naquele ano.

Mas nenhuma união artística foi tão importante quanto a que Nelson teve com Frank Sinatra. Iniciada em 1953, ambos se conheceram assim que Frank foi contratado pela Capitol. O cantor realizou sua primeira sessão na gravadora com Axel Stordahl, seu diretor musical desde meados dos anos 40. Devido a um desentendimento de Sinatra com ele, ele teve uma nova sessão marcada com o bandleader Billy May. Entretanto, no dia da gravação, Alan Livingston, todo poderoso da Capitol, colocou Nelson na sessão, alegando ter os arranjos de Billy, que estava em turnê com a sua banda. Na verdade, isso foi uma tática de Alan por acreditar que a Frank teria sucesso se tivesse uma nova cara em sua produção, e ele viu em Nelson um futuro promissor pra isso. Alan Livingston teve esse pensamento devido os sucessos de Nat King Cole com os arranjos de Nelson. E ele acertou. A sessão continha duas gravações bem a la Billy May: "I Love You" e "South Of The Border", mas foi Nelson que escreveu eles, mostrando a sua verve camaleônica. E mais duas músicas foram gravadas, dentre elas "I've Got The World On A String", que trazia de início uma cadência de metais em brasa. Isso marcou o renascimento de Frank Sinatra, que vinha de um período de baixa em sua carreira. E Nelson se tornou muito maior do que era, desenvolvendo uma ligação emocional forte com Frank, mesmo com o seu jeito restrito de ser, que não foi retribuída na mesma medida por Frank. Mas este foi grato.

Depois de anos acompanhando Frank, Nat, Peggy Lee, Mel Tormé, Dinah Shore, Rosemary Clooney (com quem teve um romance rápido no início dos anos 60), Kelly Smith, Judy Garland, Dean Martin, ele começou a gravar seus próprios discos, com a sua própria orquestra, para a Capitol. Nela, Nelson permaneceu até 1962. Nelson também gravou discos conceituais, conhecidos como "Song Books", para a diva do Jazz Ella Fitzgerald, pela gravadora Verve. Nelson foi para a Reprise (fundada por Sinatra) em 1963. Lá, gravou discos próprios até 1965, além de acompanhar Sinatra e outros contratados da gravadora, como Bing Crosby. Passou por selos menores como United Artists, e mais tarde, fez trabalhos para o selo Alemão MPS, no início dos anos 70. O último grande feito de Nelson Riddle foi a trilogia de álbuns que gravou com Linda Ronstadt, para o selo Elektra, da Warner, de 1983 a 1985, ano em que faleceu.

E é sobre o primeiro disco que Nelson Riddle gravou para a MPS que eu quero falar. "Communication" foi produzido por Willi Fruth junto com o também arranjador e maestro Claus Ogerman, conhecido pela sua ligação com a Bossa Nova, principalmente com Tom Jobim. Esse disco mostra um Nelson diferente, renovado, mas sem deixar o seu estilo sofisticado de arranjar músicas, com metais bem ardentes. Mas as bases são trabalhadas em nível igualado aos metais e cordas, o que não é muito comum se tratando de Big Band. Era um novo tempo e, consequentemente, novas concepções musicais. Posso destacar algumas faixas, como "Volcano Daughter", que é um fusion jazz, com um leve toque de psicodelia dado pelo órgão que é tocado no início da música. Há "Time And Space", gravada em ritmo de valsa que tem esse mesma pegada pop anos 60, com um belo som de guitarra jazzística e tudo que tem direito. O restou eu deixo pra vocês descobrirem. tem até Bossa Nova aí. Recomendo. Eu sou suspeito pra falar (risos), mas é um álbum rico, seja em em repertório e qualidade.

Faixas:

01 Born Happy
02 A Night Of Love
03 Uptown Dance
04 Time And Space
05 Dedication
06 Volcano's Daughter
07 Romantic Places
08 It's Your Turn
09 Rachel
10 Greenwich Village

Arthur Torres

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