Roberto Carlos - Roberto Carlos (CBS, 1970)


O álbum de 1970 é um caso a parte na discografia de Roberto Carlos. Possui um belo repertório, uma capa bonita mas peca pela sonoridade abafada, muitas vezes nivelada. E olha que foi gravado em 4 canais, ao contrário dos anteriores, que foram em 3. Por sorte, as orquestrações não deixam a desejar.

É um dos meus álbuns prediletos do Rei. Aqui, Roberto está em um momento de sofisticação do seu trabalho, cujos ares de renovação se davam desde 1968, com o álbum "O Inimitável". Em 1970, RC estreou o seu primeiro espetáculo produzido: Roberto Carlos a 200 Km por Hora", com produção de Ronaldo Bôscoli e Luiz Carlos Miele. A direção musical ficou por conta de Chiquinho de Moraes, que trabalharia com Roberto até meados de 1977. O espetáculo foi exibido no Canecão, antiga casa de shows do Rio de Janeiro. O espetáculo surpreendeu o público e a imprensa. A partir daí, o Capixaba que inicou a carreira em 1959 como "imitador" de João Gilberto e que ninguém fazia fé, mostrava que dificilmente seria derrubado por qualquer força que viesse contra ele. Além disso, ele já era o Rei da Juventude, o manda-chuva da Jovem Guarda estrelou filmes e agora se firmava como um dos maiores intérpretes e compositores (junto com o parceiro Erasmo Carlos) da música brasileira de todos os tempos. Além disso, Carlos ainda carregava o mérito de ser o vencedor do Festival de San Remo de 1968.

o repertório do disco é de roupagem soul, repleto de pérolas que hoje em dia o próprio Roberto não explora - a única exceção é a gospel "Jesus Cristo", primeira de Roberto nesse estilo e que quase sempre encerra os seus shows. A primeira delas a ser gravada, "120...150...200 kM por Hora", foi a primeira  a ser gravada, em maio e lançada em compacto simples com "A Palavra Adeus" em julho de 1970. É uma das poucas composições da dupla Roberto & Erasmo que são declamadas em uma parte e cantadas apenas no refrão. Poesia pura.

A balada "Ana", que abre o disco, possui o título em homenagem a sua enteada Ana Paula, filha do primeiro casamento de Nice, primeira esposa de Roberto. O fato só foi confirmado anos mais tarde, numa de entrevista de RC ao Fantástico, da TV Globo. Infelizmente, Ana Paula faleceu em 2011. Outras faixas de destaque são a motivacional "Uma Palavra Amiga", do negro gato Getúlio Côrtes. Pode-se dizer que Getúlio é um dos maiores responsáveis pelo sucesso de Roberto, sempre atendendo ás necessidades do repertório de Roberto nas músicas que forneceu pra ele. O mesmo caso é de Helena dos Santos, amuleto de Roberto desde 1963 e que assina, em parceria com Édson Ribeiro, a psicodélica "O Astronauta", que tem direito ao som de uma nave interplanetária percorrendo o espaço. Conforme disse o historiador Paulo César de Araújo no polêmico livro "Roberto Carlos em Detalhes", Roberto compôs a música (provavelmente com Édson) e creditou a Helena a autoria pra não ficar de fora do disco.

Outros destaques são "Pra Você", clássico composto por Silvio César que já contava com algumas gravações de estrelas da música, entre elas o próprio compositor. O arranjo da versão de Roberto lembra muito os arranjos de Nelson Riddle para o disco de Frank Sinatra "Only the Lonely", de 1958. "Preciso Lhe Encontrar" é uma composição de Demétrius, um dos primeiros ídolos do rock nacional e que possui uma levada bem country."Vista a Roupa Meu Bem" é um sarro e nada mais. "Minha Senhora" é uma balada "pra frente" ao abordar a diferença de idade entre os casais e é um retrato da relação dele com Nice, que era 3 anos mais velha que ele. "Maior que o Meu Amor" é de Renato Barros (do Renato & Seus Blue caps) e encerra o disco. Destaque para a famosa "Meu Pequeno Cachoeiro", de Raul Sampaio em homenagem a cidade natal de Roberto (e sua também) cuja gravação fez Roberto ir as lágrimas.

A capa do álbum, justiça seja feita, é de um primor inigualável. O fundo preto com Roberto sendo destacado pela luz do palco é resultado do clique da câmera de Thereza Eugênia. Além disso, a primeira edição trazia a foto em uma capa toda laminada, um luxo na época que infelizmente a CBS não continuou a proporcionar nos anos vindouros.

Embora o álbum não tenha uma ficha técnica decente, sabe-se que os arranjos são de Chiquinho de Moraes e Alexandre Gnatalli. A Gnatalli, algumas fontes creditam o arranjo de "120... 150... 200 km por Hora". Chico de Moraes comandou as gravações restantes. Além disso, constam as participações da banda Renato & Seus Blue Caps, Lafayette no seu parceiro órgão Hammond B3 e o aclamado pianista Dom Salvador em "Jesus Cristo". A produção "Roberto Carlos 1970" é de Evandro Ribeiro e foi lançado pela CBS, tradicionalmente, em dezembro de 1970. Foi o último álbum a sair em duas edições: a de mixagem Mono e a Estéreo. A partir de 1971, a CBS colocaria discos híbridos, que podiam tocar em qualquer toca-disco, seja monaural ou estereofônico.

Faixas:

01 Ana (Roberto Carlos; Erasmo Carlos)
02 Uma Palavra Amiga (Getúlio Côrtes)
03 Vista a Roupa, Meu Bem (Roberto Carlos; Erasmo Carlos)
04 Meu Pequeno Cachoeiro (Raul Sampaio)
05 O Astronauta (Édson Ribeiro; Helena dos Santos)
06 Eu Preciso Voltar no Tempo (Pedro Paulo; Luiz Carlos Ismail)
07 Preciso lhe Encontrar (Demétrius)
08 Minha Senhora (Roberto Carlos; Erasmo Carlos)
09 Jesus Cristo (Roberto Carlos; Erasmo Carlos)
10 Pra Você (Silvio Cesar)
11 120.. 150... 200Km por Hora (Roberto Carlos; Erasmo Carlos)
12 Maior que o Meu Amor (Renato Barros)

Comentários

  1. Cara, gostei se seu Blog! A canção 120, 150, 200 km/h foi cantada também naquele medley sobre velocidade! Adoro O astronauta e Se eu pudesse voltar no tempo!
    Abraços!

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    1. Realmente, são músicas belíssimas. Obrigado pela força, colega. Um Abraço.

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  2. Grande Artur. Parabéns pelo seu blog e parabéns pela postagem. Eu também sempre achei esse disco abafado um pouco demais. Gosto do disco inteiro, uma pegada e abordagem soul que já vinha sendo trabalhada desde o Inimitável. Gosto muito da "Eu Preciso Voltar No Tempo" do Pedro Paulo e do Luiz Carlos Ismail, este último integrante do coral do RC9 até os dias de hoje. E que está trabalhando com o Roberto desde os tempos da Jovem Guarda.

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    1. Muito obrigado pela força, Baratta. Ás vezes, é um trabalho que exige esforço, mas é gratificante. Sei que, assim como você, também blogueiro, estou fazendo o meu papel em trazer informações que ainda muitas pessoas que acessarem essa postagem vão saber pela primeira vez. Um abraço.

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